monsenhor Joel Portela Amado |
Realidade interpela a Igreja
“Uma palavra emerge com crescente vigor
em nossos dias: perplexidade. Este é um termo que penso poder ajudar a
compreender pastoralmente o que se passa neste mundo sob aceleradas
transformações, não apenas no superficial, mas também e principalmente
nas categorias mais profundas de compreensão da vida e consequente
atuação sobre ela”, ponderou monsenhor Joel.
De acordo com Portela, diante da
perplexidade, emergem algumas possibilidades de reação, as quais, na
prática se misturam: lógica da flexibilidade e mobilidade nos critérios,
em todos os campos, da vida, inclusive nos campos ético e religioso;
lógica da individualidade, da solução de cada um, com grande dificuldade
para olhar os sonhos; lógica do imediato, da solução a curto prazo, dos
resultados que estejam ao alcance das mãos, com dificuldades para
sonhos maiores e renúncias.
Igreja interage com a realidade
Monsenhor Joel apresentou alguns
critérios por meio dos quais se vai interagir com as questões que chegam
para a Igreja, considerando sempre as urgências na ação evangelizadora.
Ele falou em três “vozes”. A primeira seria uma voz que tem se
destacado e é muito ouvida: a voz do Papa Francisco: “Num mundo hoje,
sem vozes nem lideranças significativas, o Santo Padre é, podemos dizer,
unanimidade. Sua liderança moral é incontestável. Sua voz é ouvida, sua
pessoa é admirada, sua presença é noticiada”.
Outro
critério seria a expressão “voz acolhedora da Igreja” caracterizada
pela “solidariedade a partir da cruz”. Segundo Joel é a Igreja que “não
teme sujar-se nas lamas existenciais, correndo às pressas para as
periferias, tenham essas periferias as formas que tiverem”. Um terceiro
critério de interação da Igreja com a realidade atual seria representado
por “uma voz que escuta”. “Creio que o Espírito tem dito à Igreja que,
nestes e em todos os casos, a grande atitude é o acolhimento pessoal sob
suas variadas formas. Acolhimento aqui não significa o atendimento
incondicional das solicitações, fruto do medo de perder a freguesia,
atitude mais própria de empórios religiosos do que da genuína ação
evangelizadora”.
“Uma escuta que vai ao encontro” foi o
quarto critério de interação apresentado por monsenhor Joel. “Outro
aspecto a nos interpelar nestes tempos de perplexidade diz respeito à
missão. Perplexidade e missão se articulam muito diretamente. O
princípio é simples: maior a perplexidade, maior ainda deve ser a
missão”, disse.
Na conclusão da reflexão, como um dos
possíveis critérios de interação da Igreja com a realidade atual,
monsenhor Joel apresentou o tema que foi aprofundado pelo papa Francisco
na Bula do Ano Santo, lançada no último dia 11 de abril: a urgência da
misericórdia. “Em tudo isso, importa identificar um viés apto a conduzir
transversalmente a ação evangelizadora em nossos dias, fornecendo
conteúdo, identidade, rosto, para tudo o que a Igreja fizer. A meu ver,
este viés foi oficializado pelo papa Francisco ao convocar toda a Igreja
para o Ano Santo da Misericórdia. De fato, a misericórdia é uma das
maiores necessidades de nosso tempo. O que da Igreja se pede, neste
momento da história, é que seja sinal transbordante e interpelador da
misericórdia de Deus”, acrescentou.